quarta-feira, 7 de julho de 2010

DIÁRIO DE UM BEBÊ

Diário de um bebê




1º MÊS
Completo hoje trinta dias e confesso que já estou farto de ouvir "bilu-bilu" o dia inteiro na minha cara. Por que os adultos não falam direito, fazem voz esquisita e fanhosa, se sabem que não entendo nada do que dizem e muitomenos falando assim?

2º MÊS 
Percebo que estão todos apreensivos, suas caras mudam de expressão depois que abrem o jornal e comentam que o preço do leite vai subir. Não sei por que essa preocupação se o leite que eu tomo é de graça e é a mamãe que fornece. Se o leite subir, até que é bom, porque a mamãe pode ficar rica.


3º MÊS 
Quero esclarecer que, quando molho a fralda, choro muito, mas é por causa da despesa que estou dando. Sei como está difícil arranjar empregada pra lavar todo dia. Outra coisa que me chateia e não posso reagir é quando as visitas dizem que sou a cara do pai. No princípio eu não ligava, mas agora, que já vi a cara do pai, não gosto muito.


4º MÊS 
A vovó tem mania de ficar me balançando no colo e pensa que durmo por causa disso. Mas não é não. É que fico tontinho e desmaio. A mamãe passa o dia inteiro lendo livros para saber como cuidar de mim, mas os livros são tão diferentes que quem sofre sou eu, pois ela fica sem saber o que fazer.


5º MÊS 
Não gosto quando a mamãe insiste em tirar a minha chupeta e o papai diz que é melhor do que botar o dedo na boca. O que me incomoda não é nem a falta da chupeta  nem do dedo; é a discussão na minha cara.


6º MÊS 
Não gosto do meu pediatra porque todo mês receita um monte de sopas que eu detesto e um monte de remédios que quem detesta é a mamãe. Só gosto daqueles ferrinhos que ele traz na malinha, mas toda vez que seguro um pra brincar, ele tira da minha mão e enfia na minha garganta.


7º MÊS 
Quanto às mamadeiras, acho bom entenderem de uma vez por todas que não quero tomar, não adianta ninguém insistir, nem me passar de mão em mão pra cada um tentar uma vez. O problema não é trocarem as pessoas - é trocarem o leite, que eu conheço o gosto.


8º MÊS 
Aqui em casa todos acreditam nos livros que ensinam "como cuidar do bebê", mas nenhum médico nunca me consultou do que gosto e do que não gosto, pois quando eles escreveram seus livros eu nem tinha nascido. Seguir estatística é nisso que dá: quem entra pelo cano sou eu.


9º MÊS 
Não adianta ficarem dizendo na minha cara "mamã" e "papá", porque o certo é "mamãe" e "papai". As pessoas grandes ensinam a gente a falar errado porque acham que é mais engraçadinho - depois eu sei o que acontece: de tanto a gente falar errado, eles acabam mandando a gente pra escola pra aprender a falar direito.


10º MÊS 
Coisa de que eu não gosto é quando chegam visitas: entram no meu quarto pra ver se estou dormindo e ficam falando baixinho que estou acordado. Depois vem outro e diz que estou dormindo, depois vem outro e diz que acha que estou acordado - ninguém se manca, pois com todo mundo cochichando não consigo dormir.


11º MÊS 
Muito constrangedor é quando deixo a sopa no prato, só pela cara da mamãe já sei que o preço dos legumes subiu de novo. Coisa que não entendo é que todo mundo concorda que não se deve bater numa criança, mas bem que de vez em quando me dão umas palmadas. Não quero crescer nunca, acho gente grande muito nervosa.


12º MÊS
  A maior emoção da minha vida foi quando consegui ficar de bruços, porque esse negócio de ficar deitado de costas é muito bom, mas é pro papai. Agora estou engatinhando e ouço dizer que muito breve começarei a andar. Eles não perder por esperar: assim que eu começar a andar, saio de casa.
 
 
 
 

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